sábado, 16 de outubro de 2021

Abrindo o coração

O seu olhar parece ter perdido o brilho e ela queria poder recuperá-lo...
Outra vez com "síndrome de salvadora"? Ela se repreende, pois da última vez não havia dado nada certo.
Mesmo se policiando para não pensar nele, mesmo tentando não ansiar pelo dia em que poderá ruborizar ao encontrá-lo, não passa um dia sem que ela sinta vontade de lhe enviar uma mensagem. Embora ela não saiba como dizer um simples "oi". 
Num lampejo de coragem ela o seguiu naquela rede social em que ele nunca posta nada.
Parece que ele não expõe nada sobre si, além do olhar triste nas fotos de perfil em que parece que algo lhe roubou a alegria de viver e apagou o sorriso tímido que talvez a tivesse cativado para esse paradoxo em que está presa.

Ela queria poder acreditar mais em si mesma, queria poder lhe falar sobre esse sentimento sem nome que cresce em seu coração, mas há tanto tempo que ela não se permite ser feliz que nem ao menos sabe se aquilo que borbulha em seu âmago é realmente um amor nascendo.
Mas ela não se sente a vontade com sua aparência, nem com sua inteligência (ou falta dela), nem com todos os comentários maldosos que fizeram sobre ela e que porventura possam ter chegado aos ouvidos dele.
Ela o enaltece, o considera muito além do que ela mereceria. Se rebaixa ao ponto de jamais sequer lhe dirigir a palavra, mas ainda sonha como uma menina boba com aquilo que lhe é impossível.
Ela queria ser diferente, queria lhe mostrar o quão incrível ela pode ser, mas parece que tudo de ruim que já lhe aconteceu se infiltrou profundamente e criou inúmeras raízes que nutrem esse sentimento de menos valia que impede que as pessoas saibam o quão incrível ela é.

Ela não queria se sentir desamparada, não queria se mostrar inabalável e envolta numa couraça resistente. Ela já apanhou demais da vida, queria poder ser cuidada por alguém. 
Pelo que parece ele também precisa disso... e ela não se importaria de baixar sua guarda e deixá-lo conhecer sua fragilidade e mutuamente cuidar de suas feridas se tivesse certeza de seus sentimentos por ela.

Em alguns momentos ela ensaia mentalmente o que poderia fazer para se aproximar dele. Então, ela se enche de coragem e pensa em mandar aquela mensagem que poderia mudar tudo, mas ela tem medo.

Ela conjectura inúmeros impasses quanto ao que poderia acontecer se ele sentisse o mesmo. E quanto mais ela pensa sobre isso, se convence de que nunca daria certo e se resigna ao fracasso iminente como a música: "tudo é tão impossível que ateamos fogo aos remos"

Acima de tudo ela não acredita que alguém como ele gostaria de alguém como ela. Ela crê que não tem nada para oferecer a alguém como ele...
Existe um abismo entre os dois que parece intransponível e ela sabe disso. 
A dor da rejeição não seria novidade, ela a conhece bem... mas o seu maior pavor é ter exposto que um dia ousou gostar dele. Que se riam dos sentimentos dela, que façam troça de seu afeto, tal qual Quasímodo... e esse medo a paralisa.

Ela nunca vai saber se ele poderia um dia lhe olhar da forma que ela o olhava. 
Ela nunca vai saber se ele um dia sonhara com ela como ela o fez tantas vezes.
Todas aquelas coisas irão viver apenas na sua memória de possibilidades  que nunca se tornarão realidade...

Ela se odeia por ser tão covarde.

Tantas oportunidades lhe escoaram pelas mãos por temor do desconhecido.
Ela sabe que só pode conseguir algo tentando, mas ela entra em crise de ansiedade só de imaginar em se mostrar pra ele.

Hoje será mais uma noite pensando em onde ele estará, o que estará fazendo e torcendo para ele estar bem, para que seja feliz e que encontre a felicidade mesmo que seja com outro alguém.

Eu acho que ela o ama, mas o que sei eu sobre o amor?

*~~~~~~~~~~~~~~~~~*

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Ela se foi

Um dia ela decidiu que nada daquilo lhe servia. 

Naquele dia ela percebeu que não havia restado nada além do vazio dentro de si.

Ela reuniu a última gota de confiança que lhe restou e comunicou o fim, não sabendo ao certo o quanto ainda doeria dali em diante, mas certa de que não lhe sobrariam muitas opções pro futuro além de tentar mudar seu destino.

Naquela noite ela partiu daquela situação, mas também partiu de si mesma e do ponto de equilíbrio em meio ao caos que lhe preenchia o ser.

O que seria dali para frente? Algum dia teria forças para se reerguer?

Muitos dias ruins seguiriam, mas muitos dias bons também haveriam para lembrá-la de que algumas coisas mudariam para poder dar lugar a outras tão boas quanto aquelas foram algum dia.
E como uma brasa reacendida, o seu coração voltou a queimar por sonhos adormecidos.

Ela se permitiu partir de si mesma, daquela versão que se tornara infeliz, para uma pessoa com alguma tímida coragem para enfrentar as adversidades que viessem... e elas vieram, bateram tão forte quanto ela pôde aguentar. Nalguns dias ela chorou, pensou em desistir e ela ainda pensa nisso em alguns momentos  de fragilidade... Mas em outros dias, Ah em outros dias ela brilhou como mil sóis e foi feliz como nunca havia pensado. Porque ela tem medos bobos que aos poucos vai enfrentando, saindo da concha e buscando sua melhor versão, amando o maior amor da sua vida: ela mesma.

Naquele dia ela partiu, permitindo que os cacos do seu coração se reconstituíssem em um belo diamante forjado a partir da brasa incandescente de amor, que sim, ela tem a oferecer ao mundo.

No caminho ela descobriu que teria que atravessar a areia escaldante da praia se quisesse alcançar a praia e isso se repetiria inúmeras vezes enquanto fosse necessário aprender com o processo.
E isso acontece todos os dias, pois ela está crescendo e tentando, embora a dor desse fluxo lhe cause desconforto.

Ela sabe que ninguém virá diminuir o peso da sua carga e que o caminho será solitário, mas o fim do percurso guarda uma promessa de que toda lágrima se converterá em paz. 
E foi por isso que ela se foi.

*~~~~~~~~~~~~~~~~~*

вlσg